Direito de Família na Mídia
Comissão de Anistia julga processos em homenagem ao Dia da Mulher
07/03/2008 Fonte: MigalhasEm homenagem ao Dia Internacional da Mulher que se comemora amanhã, a Comissão de Anistia do MJ julga hoje, os processos de sete mulheres perseguidas entre 1946 e 1985. A solenidade é aberta ao público, e está marcada para as 14h, no auditório Tancredo Neves do ministério.
As atividades começam com um painel. As agruras, dificuldades vividas na época e a luta pela redemocratização serão relembradas por Iara Xavier (familiar de desaparecidos políticos), Therezinha Zerbini (escritora e militante política) e Adelina Dematti de Alaye (uma das Mães da Praça de Maio, da Argentina). A ministra da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, Nilcéia Freire, também confirmou presença no painel.
Logo em seguida, às 16h, acontecerá uma Sessão Extraordinária de Julgamento. Terão os requerimentos apreciados: Ana Wilma Oliveira Moraes, Nancy Mangabeira Unger, Beatriz Arruda, Clara Charf, Estrella Dalva Bohadana Bursztyn, Halue Yamaguti de Melo e Maria do Socorro de Magalhães.
Ana Wilma era secretária da Folha da Manhã, atual Folha de São Paulo. Companheira de um rapaz que pertencia à Aliança Nacional Libertadora, foi demitida do jornal, presa e torturada em 1969. Passou seis meses no Presídio Tiradentes, na capital paulista. Em 1970, foi detida novamente, por 92 dias.
Estudante da Faculdade de Nacional de Filosofia da UFRJ, Nancy Mangabeira Unger foi expulsa da instituição em 1969 sob a acusação de subversão e impedida de se matricular em outra instituição. Na clandestinidade, foi detida pelo Exército em Recife e teve o polegar da mão direita decepada por um tiro de fuzil. Nancy foi uma das presas políticas trocadas pelo embaixador suíço Enrico Bucher, seqüestrado por organizações que lutavam contra o regime militar na década de 1970. Exilada na Suíça, voltou ao Brasil em 1979, com a Lei de Anistia (clique aqui). Continuou a ser vigiada pelos órgãos da repressão.
Paulista de nascimento, Beatriz Arruda foi casada com o deputado estadual Fernando Leite Perrone - MDB, ligado à ALN. Beatriz foi para o exílio com o marido, no Chile, em 1969. Só retornou ao país com a Lei de Anistia.
Clara foi alvo da repressão desde 1946. Comunista histórica, viveu na clandestinidade por longo período. Foi companheira de Carlos Marighella, fundador da ALN. Após a morte deste, em 1969, exilou-se em Cuba. Hoje trabalha no Conselho Nacional dos Direito da Mulher e articula a rede Mulheres pela Paz ao Redor do Mundo.
Estrella Dalva Bohadana Bursztyn, estudante e militante do Poc contra a Ditadura, foi presa diversas vezes e torturada entre 1970 e 1973. As violências sofridas foram brutais. Atualmente, é professora universitária no Rio de Janeiro.
Halue, costureira e militante do PCB, também foi torturada barbaramente pela repressão. Em 1965, esteve detida com seus três filhos, então adolescentes, em Ponta Grossa/PR. Foi vigiada pelos órgãos de repressão até 1987.
Presa pela polícia política em 1972 em Pernambuco, Maria do Socorro passou por torturas em sessões que duravam horas, durante mais de um mês. Ela era acusada de subversiva por participar de movimentos estudantis. Exilou-se na Alemanha. Atualmente mora na cidade de Alto Paraíso/GO, onde trabalha com projetos antropológicos.
Os processos de Ana Wilma, Beatriz, Clara, Estrella Dalva, Halue, Maria do Socorro e Nancy serão apreciados por seis conselheiras da Comissão.
Anistia Cultural
A atividade desta sexta, que faz homenagem às mulheres, faz parte do projeto Anistia Cultural. A medida visa dar um caráter cultural e pedagógico às ações da Comissão e divulgá-las entres estudantes universitários, servidores do Ministério e população em geral.
O projeto está sendo implementado em 2008 como uma meta incorporada aos trabalhos da Comissão de Anistia, por iniciativa de sua nova gestão. É uma das ações do Projeto Educativo "Educação para a Cidadania, Democracia e os Direitos Humanos", e foi lançado no último dia 21, com palestra do dominicano Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto.
O presidente da Comissão e professor de Direito da PUC/RS, Paulo Abrão Pires Junior, comenta que "Com o projeto educativo da Comissão de Anistia, pretendemos transformar os trabalhos de julgamentos dos perseguidos políticos brasileiros em um momento de efetiva reflexão para o país".
Até o final do ano, estão previstas palestras em universidades, prêmios de monografia e documentário, e publicação de material educativo para jovens e crianças.